O economista italiano e membro do conselho executivo do Banco Central Europeu, Fabio Panetta, disse que o euro digital deve ser um meio de pagamento atraente para o uso regular, mas o seu design deve impedir que se torne numa reserva de valor tão bem-sucedida ao ponto de ameaçar os bancos privados e o dinheiro tradicional.
Durante um discurso no Instituto Real Elcano, em Madrid, Espanha, o representante do Banco Central Europeu (BCE) disse acreditar que numa fase em que as pessoas já começam a usar o dinheiro mais como uma reserva de valor do que um meio de pagamento, ter um euro digital permitiria que continuassem a usar o dinheiro do banco central como meio de pagamento na era digital.
Para Fabio Panetta, o euro digital e o euro físico devem completar-se um ao outro para garantir que a moeda digital do banco central (CBDC) continue a ser uma âncora monetária para o ecossistema de pagamentos.
E para isso, a forma digital do euro deve ser atraente para o uso regular em pagamentos, mas a sua estrutura não deve ser tão bem-sucedida como reserva de valor ao ponto de eliminar os bancos privados e aumentar o risco da corrida bancária.
Embora tenhamos discutido longamente a possibilidade de um euro digital ser paradoxalmente muito bem-sucedido, temos de dedicar a mesma atenção ao risco dele não ser bem-sucedido o suficiente.
Disse Fabio Panetta durante o seu discurso.
“Desenvolver uma proposta de valor convincente… é fundamental para o sucesso do euro digital“
Fabio Panetta lembrou que embora o dinheiro físico actualmente forneça às pessoas o acesso às CBDCs, a sua importância nos pagamentos está a diminuir à medida que os consumidores preferem cada vez mais pagar digitalmente e fazer compras online.
Os dados estatísticos indicam que as vendas pela Internet na zona euro duplicaram desde 2015, e apenas cerca de 20% do estoque em dinheiro físico agora é utilizado para pagamentos, em comparação com os 35% de há uma década e meia, disse o representante do BCE.
Neste sentido, o esforço para emitir o euro digital deve atender certas condições para que tenha sucesso. Fabio Panetta esclareceu o assunto dizendo:
Mais do que ser atraente como a única forma digital de dinheiro sem risco, o euro digital terá de facilitar os pagamentos digitais onde quer que os europeus precisem.
Por outro lado, os comerciantes devem ter certeza de que os consumidores desejam usá-lo, enquanto os intermediários devem descobrir que os benefícios da sua distribuição superam os custos.
Assim, para Fabio Panetta, desenvolver uma proposta de valor convincente para todas as partes interessadas é fundamental para o sucesso do euro digital. Este é um elemento-chave da fase de investigação do projecto euro digital que foi lançado pelo BCE.
O BCE e a Comissão Europeia estão, em conjunto, a rever a nível técnico um vasto leque de questões políticas, jurídicas e de concepção emergentes de uma possível introdução de um euro digital, incluindo o papel que o estatuto de curso legal pode desempenhar na obtenção dos efeitos de rede pretendidos.
Disse o representante do BCE.
Em todo mundo, vários bancos centrais estão a explorar a possibilidade de lançar uma CBDC em resposta à crescente popularidade das criptomoedas e em resposta à diminuição do uso do dinheiro físico.
Entre estas instituições estão o próprio Banco Central Europeu, A Reserva Federal dos EUA, o Banco Popular da China e o Banco da Rússia. Por cá, em África, temos projectos semelhantes no Quênia, Gana, África do Sul, Egipto e Marrocos; lembrando que a Nigéria já lançou a 25 de Outubro último a sua CBDC, a primeira do continente africano, denominada eNaira.
LEIA TAMBÉM
Brasil: Deputado Federal Propõe Criptomoedas Como Forma de Pagamento de Salários no País